RIO — Não há nada mais Santa Teresa do que o bondinho, diz Andréa Imbiriba. Para a artista plástica mosaicista, ele é um ícone poético, a alma do bairro. Um veículo de transporte, mas também de passeio pela história, pela arquitetura do local. Foi pensando nisso que ela resolveu juntar 80 artistas do mundo inteiro e montar um mural de 20 metros em homenagem ao simpático meio de transporte num muro da Rua Paschoal Carlos Magno, naquele bairro
— Apesar de ter crescido em Jacarepaguá, Santa Teresa é um lugar da minha infância e da minha juventude. Quando fiz uma visita ao bairro, no período do projeto Arte de Portas Abertas, achei tudo muito bonito, mas senti falta dele. Pensei: “Cadê o bondinho, que é a alma do bairro?”. Eu quero resgatar essa história, usar a arte como um apelo para que o bondinho volte a circular como antigamente — explica ela.
A montagem será feita em duas partes. Na primeira, foram cerca de cem bondinhos.
— Esse número foi perfeito para concluirmos a primeira parte. Agora, podemos focar nos artistas que não tiveram tempo de produzir o mosaico e também nas obras que ainda não chegaram. O bondinho do México, por exemplo, ainda está a caminho. Mas já vieram muitos, de muitos lugares: da Argentina, da Suíça, das Bahamas, da Colômbia — diz ela.
O mural foi construído a partir de um híbrido de individualidade e coletividade. Cada artista produziu o seu num ateliê — ou os seus: Andréa mesmo fez cinco. Mas vários se reuniram para a fixação no local.
— Trouxemos alimentos, água e os materiais para a produção: argamassa, rejunte, baldes; enfim, tudo o que era necessário. Todo mundo participou com uma boa vontade que me emocionou — conta a artista.Andréa começou a trabalhar com mosaicos quando morava em Santarém, no Pará. Ela largou seu trabalho como professora e foi procurar uma atividade para ocupar o tempo.
— Desde criança eu olhava as paredes, principalmente do Centro do Rio, e ficava apaixonada pelos ladrilhos e azulejos. Ao parar de dar aulas, vi que tinha um móvel antigo em casa, em baixo-relevo, e decidi que começaria por ali. A partir daí, passei a receber encomendas de espelhos, móveis. Peças decorativas e utilitárias. Só depois de sete anos iniciei trabalhos mais artísticos — conta.
Fonte: O Globo