Sem poder pegar avião, eles têm ido lá para fazer uma viagem cercada de história e natureza dentro da própria cidade
Destino tradicionalmente escolhido por um tipo de turista estrangeiro, sobretudo oriundo da Europa, que busca a vivacidade das calçadas apinhadas aliada a predinhos com séculos de história, Santa Teresa anda diferente nesses últimos meses. O que mais se tem ouvido
por ali é o bom e velho sotaque carioca, carregado de gírias e puxado no “xis”. Essa turma local sobe a charmosa ladeira com o objetivo de fazer uma espécie de viagem sem sair da própria cidade, modalidade conhecida como staycation, em alta neste período em que as aventuras para além-mar estão limitadas.
A turma, então, faz a mala para embarcar por um ou dois dias no clima bucólico do bairro, aproveitando as comodidades dentro dos hotéis, muitos instalados em casarões históricos. Tudo a poucos minutos do centro da cidade. “Santa Teresa é um bairro atípico, um capítulo à parte, como se fosse uma cidade dentro da outra, com direito a bonde e pontos interessantíssimos, que guardam verdadeiros tesouros, um convite a andar a pé e contemplar”, define o historiador e guia de turismo Milton Teixeira.
Foi em busca dessa mudança de ares que a médica Cinttya Júnior, 33 anos, e o bailarino Thiago Soares, 39, moradores de Copacabana, refugiaram-se em agosto, pela primeira vez, no hotel-butique Mama Ruisa, alojado em uma ampla residência colonial. “Após cinco meses dentro de casa, saindo para fazer apenas o essencial, a gente estava precisando desestressar um pouco. Daí veio a ideia de passar um fim de semana fora, mesmo que fosse em algum lugar por perto”, conta Cinttya.
O casal gostou tanto da experiência que voltou outras dez vezes para se proporcionar um respiro no mesmo hotel, onde o número de hóspedes made in Rio mais que triplicou na pandemia. “Há uma enorme demanda por parte de casais que desejam passar aqui um fim de semana romântico, longe dos filhos, como se estivessem fora do Rio, e também uma procura recente vinda de turmas de amigos que querem alugar o espaço inteiro para curtir uns dias juntos, com segurança e sem badalação”, explica o proprietário, o francês Jean Michel Ruis.
A tendência ao staycation (do inglês, a junção entre as palavras “ficar” e “férias”) foi aferida em uma recente pesquisa conduzida pelo site de viagens Booking.com. Com base no depoimento de quase 21 000 entrevistados, descobriu-se que 55% dos brasileiros ouvidos pretendem conhecer um novo destino exatamente na região em que residem e 59% afirmam ainda que planejam passar a curtir a beleza natural de onde vivem.
Nesse cenário, locais reservados e menores naturalmente se tornam mais atraentes do que os resorts e suas possíveis aglomerações nas áreas comuns. “Tive bons momentos de relaxamento e desconexão, mesmo imerso em um meio urbano”, relata o engenheiro civil Gabriel
Marques, 29 anos, radicado no Leblon, que rumou para o Santa Teresa Hotel – MGallery, da rede francesa Accor, para celebrar o aniversário de 40 anos do marido. “Santa Teresa é uma espécie de sítio, com localização estratégica, respira arte, tradição e história. Estar lá é como ser abduzido no tempo, no espaço e na cultura”, diz.
Na medida em que mais gente sobe o morro, mais os hotéis investem em novidades, variando nos serviços prestados e sugerindo boas ofertas. Reaberto com dois terços das acomodações, o Santa Teresa, onde fica o restaurante Térèze e o Bar dos Descasados, lançou uma promoção em que o cliente compra uma noite e ganha a segunda diária. No hotel Vila Santa Teresa, um spa está em construção na propriedade , com área de massagem no jardim e vista para o Maracanã, além de um amplo espaço a céu aberto para eventos.
Outra pedida é o Gerthrudes Bed & Breakfast, considerado um dos melhores do mundo da categoria pelo Booking. O casarão que já foi palco de muitas festas, grandes eventos e recepções nos anos 30, levou cerca de 04 anos para ficar pronto, e desde 2015 a empresária Adriana Feitsma começou a receber hóspedes lá.
Nascido em torno do convento de Santa Teresa, erguido no século XVIII, o bairro despertou de imediato a atenção da aristocracia carioca, que ergueu ali casarões inspirados na arquitetura francesa da época, muitos de pé até hoje. Também encantou imigrantes europeus, movidos pela temperatura mais amena lá em cima.
A chegada do bondinho, em 1896, durante a República Velha, foi fundamental no processo de urbanização da vizinhança, que anos depois se tornaria refúgio de artistas, escritores, músicos e intelectuais – entre eles, Carmen Miranda, Pixinguinha, Djanira e Jorge Selarón, responsável por decorar a famosa escadaria que dá acesso a Santa Teresa a partir da Lapa. A veia artística do bairro, também chamado de “Montmartre carioca”, em alusão ao vibrante morro da boemia em Paris, e seus inúmeros ateliês são um belo estímulo para encarar aquelas ladeiras, agora apreciadas de um novo ponto de vista por cariocas da gema.
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Matéria Original: Carolina Barbosa Veja Rio