No dia 1.º de setembro de 1896, teve lugar a cerimônia inaugural da substituição da tração animal pela elétrica nos bondes da Companhia Ferro-Carril Carioca, e da passagem das linhas sobre os Arcos da Carioca, ligando o morro de Santa Teresa ao de Santo Antônio.
A força motriz era produzida por duas possantes máquinas a vapor, montadas na estação da rua do Riachuelo e conjugadas com dínamos hexapolares “Thompson-Houston”, podendo cada unidade desenvolver 200 HP. As caldeiras eram do tipo “Stirling”, premiado na Exposição de Chicago de 1893. A chaminé, toda de aço, media 30 metros de altura.
O arrojado empreendimento faz recordar a figura do Dr. Eduardo Augusto de Souza Santos, presidente daquela Companhia, que, não sendo engenheiro, mas médico, transformou em viaduto o velho aqueduto do Conde de Bobadela.
Naquele dia, à 1 hora da tarde, após a benção da estação, ao lado do edifício da Imprensa Nacional, por detrás do Chafariz (ambos já demolidos), partiram pela nova linha, que ali começava, sete bondes elétricos, indo no primeiro a banda de música e nos seis restantes o representante do Dr. Prudente José de Moraes e Barros, Presidente da República, o Chefe de Polícia, o Diretor de Obras da Prefeitura, outros funcionários municipais e federais, a diretoria da Carril Carioca, o Sr. James Mitchell, representante da General Electric Company, e grande número de senhoras e cavalheiros.
Transposto o morro de Santo Antônio, o Dr. Eduardo Santos assumiu o “controller” de um dos elétricos, em lugar do motorneiro, e percorreu os Arcos, ainda sem a tela que guarnece os lados, a uma altura de 18,16 metros do solo, produzindo extraordinária sensação entre os presentes.
“Houve, naturalmente – conta o Dr. César Leitão – quem achasse arriscada a travessia; maior, porém, foi o número dos que se extasiaram com a beleza do panorama que dali se descortina. E os chapéus de palha que voaram das cabeças, em meio a essa contemplação?”
Prosseguindo a viagem, sob os aplausos dos moradores de Santa Teresa, chegou a comitiva ao largo do França, final da linha eletrificada.
Aí, no jardim da Caixa D’água, ao som de variado repertório da banda de música, foi oferecido aos ilustres convidados um suculento “lunch”, servido pela Colombo, trocando-se, então, entusiásticos brindes, sendo muito felicitado o Dr. Eduardo Santos.
Às 5 horas da tarde, terminada a festa, retornaram os convivas ao largo da Carioca.
“Bem nos lembramos – é ainda o Dr. César Leitão quem conta – de viajar nos antigos bondinhos de Santa Teresa. Éramos crianças, naturalmente… Na subida, várias parelhas os arrastavam. O cocheiro manejava um chicote de alguns metros de extensão, assobiando e gritando, a fim de aumentar-lhes a eficiência. Na descida, nos trechos mais íngremes, os carros vinham por si mesmos, escorregando pelas linhas. Havia animais que os esperavam, nos pontos sem ladeira. E, quando, descendo assim, os bondinhos paravam para receber passageiros, o cocheiro pulava um pouco na plataforma, a fim de que, sacudindo, o veículo retomasse movimento. E lá ia ele, de novo.
E os bondes abertos? Arrabalde procurado sobretudo pelos que sabiam admirar a natureza carioca, Eduardo Santos mimoseou a população de Santa Teresa, durante o verão, com carros-reboques desprovidos de teto e apenas dotados, nas horas do rigor do sol, de toldos de lona. Que aspecto festivo e alegre tinham esses pequeninos bondes!”
(Charles Julius Dunlop no livro Rio Antigo)