Nossa homenagem a esse ícone de Santa Teresa que nos deixou.
– Seu nome?
Diógenes Paixão, 84 anos.
– Sua família?
Sou o terceiro de oito irmãos, filhos de Nenzita Cunha e Leonardo Paixão, mais conhecido como Cabo Paixão.
– E quem é de fato, Diógenes?
Uma chama que atravessou o tempo sem que fosse preciso me vender a ninguém.
– O que fez você para tal?
Muito trabalho e amor ao que gosto de fazer, uma luta diária para no final ser feliz.
– E como é o seu mundo?
De beleza e inteligência. Levo tudo com bom humor, porém, já chorei muito.
– Como foi sua chegada ao Rio?
Em 1961 com apenas CR$ 350 no bolso e morar em Ramos com parentes. Quando já estava decidido a voltar, devido a dificuldades, surgiu meu primeiro “anjo protetor” – Sr. Felipe Lauria, pai de um amigo comum, Roberto. Ofereceu-me emprego no Banco de Crédito Real (Av. Rio Branco), sendo ele o embrião que fortaleceu meu abatimento, impedindo meu retorno.
– Surgiram daí mudanças radicais?
Sim! Radicais com possibilidades e oportunidades que transformaram meus sonhos em realidade.
– Quais sonhos?
Não queria ser pobre em situação alguma. Em 1963 fiz concurso para o Banco do Brasil e o segundo “anjo protetor” surgiu – Sr. João José Pereira, também pai de amigos, Eliane, que conseguiu nomear-me para Salvador, impedindo-me de ir para uma cidade de nome Amargosa! Lá conheci Caetano, Gil, Betânia, Gal, Guilherme Araújo, e Roberto Brow, sobrinho de Burle Max e de quem ouvi, pela primeira vez, o nome VOLPI. A história daí em diante mudaria com o retorno ao Rio “alfabetizado”!
– Como assim?
Volpi foi meu primário e faculdade, Burle Marx o pós-graduação. Durante 04 anos viajei para São Paulo e esperava por Volpi na porta de sua casa. Ao abrir ele dizia: “chegou o feio”. Tenho orgulho olhando para trás e sentir que dois mestres estiveram muito próximos de mim.
– Aí surgiu o “marchand”?
Sim, pois necessito de arte e desde a infância tinha por hábito, visitar igrejas. Chamo meu quarto de “Capela Sistina”, ninguém me olha pela minha feiura e sim pelas obras de arte que estão entorno de mim. Tudo meu é bonito e até o feio torna-se belo e assim me vejo entre minhas obras. Fiz da arte uma escolha de vida e que deu certo.
“…paixão pelo prazer de ver e sentir o mundo paralelo, um mundo da nossa arte”
(Vicente de Melo/2015)
– Boas lembranças?
Foram várias, sendo que a minha entrada para o Banco do Brasil me forneceu o “passaporte” para o que viria.
– E as dificuldades?
Muitas, porém todas consegui superar com determinação, coragem e paciência.
– E os resultados?
As melhores lições. Daí os resultados que hoje vejo e sinto, através do que construí.
“… Diógenes, que não é só Cunha, mas também é Paixão”(Jorge Salomão/95)
– Como foi conviver em ambiente tão competitivo como o das artes?
Fui bem recebido e respeitado, pois tinha uma base, meu emprego no Banco do Brasil. Fiz muitos amigos, uns nem tanto, outros permanecem.
– Muitas viagens?
Sim, muitas! Foram 40 viagens com professores, galeristas, artistas, colecionadores e críticos de arte na Europa, Estados Unidos e Brasil. Considero portanto, a vida, minha universidade: sou um autodidata.
– Como preenche seu tempo?
Hoje, especialmente, com o “Bar”, que é minha obra principal; com as manhãs cuidando das minhas plantas, tendo a rádio MEC sintonizada 24 horas, sem interrupção. Além das visitas semanais ao CADEG (Centro de Abastecimento do Estado de Guanabara), para a compra de frutas e flores para o Bar e minha casa. Assim estou há mais de 40 anos.
– E como surgiu o Bar do Mineiro?
Comprei um “botequim” para ajudar meu irmão Emanuel e deu no que deu. O Bar colocou Santa Teresa no mundo inteiro, daí passando a sustentar meus devaneios.
“…ambiente chique e informal com seus pratos maravilhosos. Está sempre lotado. Point de descolados e gringos. A decoração é um capítulo a parte, com diversas fotos incríveis e obras de arte…”
(Guia do Rio de Janeiro por Clauce Rocha)
– Algo mais a dizer?
Com Burle Marx aprendi a gostar da terra, lidar com ela e cuidar das plantas. Um dia ele me disse: “Você será muito feliz pois sabe o que quer”! Vivi intensamente! A vida é uma só, ao vivo e em cores, não tem ensaio geral. O que quero mais? Só agradecer!
– Sente-se realizado?
Sinto que realizei alguma coisa e tenho planos ainda por muito tempo. Com toda esta história não tive tempo para aprender sambar!